Acredito que falamos melhor de algo quando não temos a pretenção de sermos tecnicos ou especialistas em algo. Pensando nisso, quero tirar a poeira deste blog falando sobre um filme que assisti hoje. "O Livro de Eli" foi uma escolha aleatória, que terminou com uma sensação satisfatória, depois de um misto de amor e ódio no decorrer da história.
Em um mundo pós apocalíptico e devastado por uma guerra mundial e pela radiação solar, um homem luta para cumprir sua missão: proteger um livro e levá-lo a um lugar seguro. Não um livro qualquer, mas o ultimo exemplar existente da Bíblia Sagrada. Eli, interpretado por Denzel Washington, atravessa um país onde não existe mais água, comida, vida civilizada e as poucas pessoas que conheciam a vida antes do "flash" lutam para sobreviver. Não se tem uma noção de tempo exato de quando a historia se passa, apenas que já se completaram 31 anos que a guerra ocorreu. A dinheiro passa a ser qualquer coisa que possa ser trocada, ou seja, a moeda de troca é tudo o que restou de útil de um mundo onde a maior parte da população já é muito velha ou morreu. Os jovens não sabem ler e não tem idéia de como a vida era ou poderia vir a ser. Algumas frases são marcantes como " jogávamos fora coisas pelas quais matamos hoje" e "não sabiamos o que era ou não era precioso" e servem para dar uma idéia de como a vida era e como se tornou. Também são boas para nos fazer pensar.
Uma coisa interessante do cinema é o quanto ele pode ser ético culturamalmente falando. Digo isso pois a historia poderia ser contada de forma clichê e até patética, mas o roteiro foi muito bem elaborado e a questão religiosa é na verdade, o pano de fundo para uma questão maior: o poder ideológico da fé como fonte salvadora da humanidade ou simplesmente, uma poderosa arma de manipulação em massa. Essa dualidade é evidenciada o tempo inteiro. Não existe julgamentos ou diálogos tendenciosos, podendo ser chamado até de "religiosamente correto" neste sentido.
Eu confesso que fiquei encantada com a fotografia, muito bem cuidada, com a luminosidade das imagens ao céu aberto, nem branca nem cinza, mas amarelada, com a intenção de evidenciar a incidencia de uma radiação solar descomunal. As cenas de ação são poucas, mas boas. Confesso que achei a narrativa meio lenta, arrastada em alguns momentos, os diálogos poderiam ser um pouco mais elaborados mas ainda assim, são bem feitos:curtos e objetivos, deixando muito claro as intenções e os interesses. Não há nada a descobrir neste filme, nenhum mistério ou segredo. Então, porque eu gostei dele? Gostei do uso das câmeras em pespectiva, dos raccords bonitos, da fotografia angustiante que me dava sêde toda hora, da falta de algo religioso ou milagroso num filme onde a fé de um homem move uma peregrinação na busca de algo. O final é ótimo e eu não vou contar o final... é isso!
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