terça-feira, 16 de novembro de 2010
Uma cronica de amor real
Eu lembro das gargalhadas e do barulho alto da música, das muitas pessoas e da minha cabeça bem leve por conta do álcool. Tinha ainda aquela dorzinha que sinto no estômago quando está na hora de parar de beber. Eu lembro também de quando no meio do nada, meus olhos encontraram os seus. Parecia uma miragem, parado alí a poucos metros, me olhando fixamente sem mexer um músculo que fosse. Foi aí que ficou tudo meio embaçado e confuso. Primeiro achei que fosse uma alucinação etílica e procurei um lugar pra me apoiar. Pisquei rapidamente várias vezes, mas você continuava lá, me olhando com esses olhos castanhos profundos e indecifráveis. Por alguns segundos eu fiquei repetindo pra mim mesma que estava na hora de parar de beber, mas não conseguia desviar o olhar para perguntar a alguém ao meu lado se via o que eu estava vendo. Parece loucura mas era mesmo como um desses sonhos estranhos que agente acorda sem nunca lembrar do final. Foi ai que eu percebi, com um choque de adrenalina correndo pelo meu corpo e fazendo meu estômago revirar, que não se tratava de uma alucinação provocada pelo meu subconsciente alcoolizado, mas sim, era mesmo você. Eu não conseguia distinguir o que aquilo significava, seus olhos segurando os meus, sem demonstrar qualquer reação e sem perder o interesse. Talvez fosse reprovação o que eu via nos seus olhos. Talvez tenha sido porque logo senti uma vergonha grande por estar alí, bêbada no meio daquela bagunça toda, como uma adolescente inconseqüente. E senti uma vontade grande de fugir ou me encolher. Alías, fugir de você foi a arte em que me especializei nos últimos anos. Quantos mesmo? Uns dois ou três? Tento tanto não pensar nisso, mas não consigo esquecer a maior parte, embora nunca tenha sido boa com datas. Mais alguns segundos se passaram e minha vergonha virou curiosidade com sua inércia. Porque não ia embora? Porque ainda me olhava do outro lado da rua, encostado no carro, enquanto eu parecia tudo, menos a pessoa com quem um dia você fez planos? Rapidamente milhões de cenas povoaram minha mente e eu me vi envolta em lembranças e sentimentos que nunca mudaram aqui dentro. Senti uma vontade louca sair correndo e me jogar nos seus braços, sentir suas mãos me apertarem pela cintura contra seu corpo enquanto um beijo longo me faria enfim encontrar o caminho novamente. E então não havia mais barulho, mais pessoas, mais bagunça, mas qualquer coisa ou sentido ao nosso redor. Éramos novamente você e eu. Como foi um dia, como talvez nunca tenha deixado de ser, como talvez um dia ainda possa voltar... Foi ai que eu senti uma dor profunda apertar minhas costelas e peito e uma vontade enorme de chorar. Há, se você pudesse ver o que faz acontecer dentro de mim... foi então que eu senti medo. Medo de piscar novamente e não estar mais lá quando eu abrisse os olhos. Medo maior ainda de ficar por mais um segundo que fosse com os olhos presos aos seus e perder a noção do certo e errado, se é que ainda existia, e me deixar levar pelo momento. E lembrei do seu cheiro, do som do seu riso, do calor do seu abraço, da força e delicadeza das suas mãos, e desejei profundamente tudo aquilo novamente, como uma criança encantada pela espera do Natal. Eu não sei por quanto tempo ficamos nos olhando profundamente, calados e sem ação, como que perdidos, sem saber o que fazer. Poderia ter sido um único minuto ou uma semana, o fato é que jamais poderei responder isso. Mas então você se mexeu e veio em minha direção, enquanto eu sentia o chão sair debaixo dos meus pés, minhas mãos suarem e minhas pernas tremerem. Então você sorriu e eu vi que minhas lembranças não te faziam justiça... e menos ainda à paixão dos seus beijos.
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Eu não tenho o dom do perdão. Mas talvez você tenha. Perdoar e se perdoar pode ser uma coisa boa, dizem que é. Talvez funcione pra você. Só posso dizer, que se eu soubesse perdoar minha vida seria diferente, não sei se melhor ou pior, mas, certamente, muito diferente.
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